domingo, 11 de julho de 2010

agora eu vou

Voltei a fumar. Voltei com um desespero intenso e verdadeiro. Como se meu corpo precisasse da fumaça para ser meu corpo, como se eu precisasse disso para poder ser eu.
Daquele dia, daquele dia mogoado, para frente eu não consigo aquietar. A cabeça não para um segundo e eu fico me perguntando coisas e mais coisas o tempo inteiro.
Amanheço e quando vejo já é noite. E de repende, já é dia outra vez.
Porque eu não consigo entender o que eu fiz, eu não consigo entender o que você fez. Eu não entendo mais nada por aqui. Não, eu não entendo. Eu realmente estou tentando sair disso, fugir como se fosse um crime, e até é. É absurdo. É cruel.
Essas lágrimas em meu nome, tudo isso que você joga em mim sem dó. Ah, esse tormento todo!
Eu não quero voltar, não quero sentir o passado. Eu quero o que é novo. É, eu quero. Então, você pode ir embora? Pode desaparecer? Eu não quero parecer vil. Eu não quero os mesmos erros de sempre. Quero apagar o último cigarro e nunca mais voltar ao seu meio, nunca mais me perder no seu desencontro. Você pode ir embora agora? Tudo isso me faz tão mal.
Antes tudo estava tão certo. Tão guardado, escondido em algum lugar que não era eu. E agora você vem e rouba tudo. Ah, eu estou tão cansada! Cansada de tudo mesmo. Cansada de mim e dos meus desentendimentos, desses dias tão rápidos, dessas idas e vindas, desse ócio, dessas vozes, desses lugares.
Estou planejando ansiosa a viagem mais longa. E eu quero ir com tanta vontade. Eu quero ir mesmo para não voltar. Quero o ar novo no novo lugar. Quero chegar sozinha e continuar sozinha até acabar meu tempo. Cansei de gente. Cansei desses deuses que circulam por aí. Cansei de ser errada solitariamente. Cansei. Cansei de você, dela, de todos. Cansei de tudo mesmo e cansei com verdadeira agonia. Cansei dessas coisas que já não me fazem mais parte. Ah, eu estou indo embora. E não pretendo voltar. E desisti de esperar o que não chega nunca. Desisti de lutar e de ajoelhar por aquilo que nem quer ser meu. Estou indo embora e não vou com o caração partido. Estou indo tranquila. E estou deixando tudo. Tudo mesmo. As roupas, os discos, as palavras escritas em agendas velhas, você, ela. Estou me deixando aqui para nascer de novo noutro lugar. Vou levar os cigarros. E um pouco de café. É, vou levar também o cachorro. Apenas. E nada mais de mim. Nada mais de passado. Nada mais.
Voltei a beber também.
É, a vida é mesmo uma surpresa e uma guerra diária. É. E isso dá uma dor no peito. Então eu estou de partida. E isso me acalma.

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