sexta-feira, 20 de agosto de 2010

noites, noites e noites

É tudo tão desconsertado nessa vida.
E a gente passa os dias sem saber o que a gente é, o que a gente sente.
O silêncio tem sido um bom amigo. E me ajuda a pensar nesse desconserto todo.
Os dias parecem bolas enormes de atividades inúteis e em meio a isso vaga uma ociosidade solitária e sem cor.
Penso às vezes que a culpa é minha. Eu carrego sempre a culpa de me encantar facilmente com a inutilidade das coisas.
Enquanto os pensamentos passeiam por sobre a minha pele, a cidade brilha tão forte, cheia de gente.
Cheia de gente com sorrisos.
Algumas horas depois os sorrisos e o brilho viram só silêncio e a gente escuta o barulho pequeno que a noite tem.
Faz um cheiro diferente quando as luzes apagam e a boca amarga quando o sol desperta quieto, ainda sonolento.
Durante a noite a gente acredita em tanta coisa que se desfaz ao amanhecer.
É como se a verdade tivesse comprado a primeira hora do dia.
E então a gente chega em casa depois de passos miúdos, desapressados e a mágica some.
Foge do corpo lenta, aos poucos.
E o que resta é uma dor que aperta bem forte entre a garganta e o peito.
E gotinhas amargas invadem os olhos da gente sem pedir licença.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

stef, stef, stef

Era escuro, o mais negro possível.
Depois um pouco cinza e branco. Parece que a gente muda de acordo com o céu.
Agora já é vermelho, um vermelho tão bonito que parece sorrir. Antes disso era amarelo, um amarelo melancólico que doía porque era imenso.
Um movimento crescente e preguiçoso lá fora. Ainda sem barulho.
E você me abraça.

sábado, 17 de julho de 2010

aprendendo, aprendendo

Não foi nenhum livro que eu li. Não foi nenhum filme que eu vi. Foi o que me foi dado a viver e o caminho, o único, o que encontrei para respirar. Foi a minha ignorância. Minha não pretensão, o meu não julgamento e uma lente de amor a distorcer (ou revelar?) a poesia. Antes de ser dúvida, já era texto, já era lido, já era. Arte por ser expressão legítima do que o coração gritava. E assim, inteira, absolvida pela ignorância, cometi a simplicidade de dizer o que sentia. Fiz, sem saber que a sinceridade era um atrevimento. E acho que vai ser sempre assim.

Pedro, Pedro, Pedro

Muitas bebidas e uma noite a toa, uma noite sem fim. Tentando lembrar de voce, do que voce me deu. Ah, eu nem sei mais de nada. Eu quero ficar, ficar aqui nessa noite para sempre. Sem nenhum sentido. Com essas doses sem final. O que voce tem para dizer? E a minha cabeça nao ajuda agora.
Eu queria que todas as pessoas do mundo estivessem aqui para compartilhar essa agonia e essa felicidade.
Eu sou feliz.
Eu tenho uma violao, eu tenho paz. Eu tenho voce, Pedro!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

utopia inerte dentro de mim

" deixa eu te dizer antes que o ônibuis parta que você cresceu em mim de um jeito completamente inuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver nascer uma plantinha qualquer, pequena, rala, talvez uma avenca, uma samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento, essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado "

stef, stef, stef

Eu lembro de cada detalhe. Lembro de todas as nossas horas perdidas por nada, só por estar juntas. Eu lembro de você o tempo inteiro. E você me faz uma falta muito dolorida. Muito dolorida mesmo, dói no corpo inteiro. E dói com força.
Quando eu me deito, antes de dormir, eu lembro de você. Lembro de como o escuro era menos assustador, de como o quarto era menos entediante, de como a cama estava sempre bagunçada, de como a casa era cheia de risos e abraços, de como o Fred latia, de como você me cuidava, de como eu te mimava, de como nós éramos amigas.
Quando eu acordo, todas as manhãs, eu lembro de você. Lembro de como era lindo o sorriso, de como era quente o corpo no frio da manhã, de como era gostoso o café e a mesa, de como a música entrava, de como nós brindávamos, de como era doce a vida, de como você me sorria, de como eu olhava você.
Estou feliz por te ter de volta, sem ofensas, sem desaforos. Com um carinho intenso, imenso. Com amor, como tem que ser.
Eu lembro o tempo inteiro, e eu lembro de cada detalhe.
E eu nunca vou deixar de amar você. Você é a minha metade e é o que me faz feliz.

domingo, 11 de julho de 2010

agora eu vou

Voltei a fumar. Voltei com um desespero intenso e verdadeiro. Como se meu corpo precisasse da fumaça para ser meu corpo, como se eu precisasse disso para poder ser eu.
Daquele dia, daquele dia mogoado, para frente eu não consigo aquietar. A cabeça não para um segundo e eu fico me perguntando coisas e mais coisas o tempo inteiro.
Amanheço e quando vejo já é noite. E de repende, já é dia outra vez.
Porque eu não consigo entender o que eu fiz, eu não consigo entender o que você fez. Eu não entendo mais nada por aqui. Não, eu não entendo. Eu realmente estou tentando sair disso, fugir como se fosse um crime, e até é. É absurdo. É cruel.
Essas lágrimas em meu nome, tudo isso que você joga em mim sem dó. Ah, esse tormento todo!
Eu não quero voltar, não quero sentir o passado. Eu quero o que é novo. É, eu quero. Então, você pode ir embora? Pode desaparecer? Eu não quero parecer vil. Eu não quero os mesmos erros de sempre. Quero apagar o último cigarro e nunca mais voltar ao seu meio, nunca mais me perder no seu desencontro. Você pode ir embora agora? Tudo isso me faz tão mal.
Antes tudo estava tão certo. Tão guardado, escondido em algum lugar que não era eu. E agora você vem e rouba tudo. Ah, eu estou tão cansada! Cansada de tudo mesmo. Cansada de mim e dos meus desentendimentos, desses dias tão rápidos, dessas idas e vindas, desse ócio, dessas vozes, desses lugares.
Estou planejando ansiosa a viagem mais longa. E eu quero ir com tanta vontade. Eu quero ir mesmo para não voltar. Quero o ar novo no novo lugar. Quero chegar sozinha e continuar sozinha até acabar meu tempo. Cansei de gente. Cansei desses deuses que circulam por aí. Cansei de ser errada solitariamente. Cansei. Cansei de você, dela, de todos. Cansei de tudo mesmo e cansei com verdadeira agonia. Cansei dessas coisas que já não me fazem mais parte. Ah, eu estou indo embora. E não pretendo voltar. E desisti de esperar o que não chega nunca. Desisti de lutar e de ajoelhar por aquilo que nem quer ser meu. Estou indo embora e não vou com o caração partido. Estou indo tranquila. E estou deixando tudo. Tudo mesmo. As roupas, os discos, as palavras escritas em agendas velhas, você, ela. Estou me deixando aqui para nascer de novo noutro lugar. Vou levar os cigarros. E um pouco de café. É, vou levar também o cachorro. Apenas. E nada mais de mim. Nada mais de passado. Nada mais.
Voltei a beber também.
É, a vida é mesmo uma surpresa e uma guerra diária. É. E isso dá uma dor no peito. Então eu estou de partida. E isso me acalma.